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Capítulo 3: III

Página 105
Os seus dias, o seu trabalho e os seus pensamentos não chegavam para expiar o seu pecado, porque as fontes da graça santificadora tinham deixado xado de refrescar a sua alma. No máximo, graças a uma esmola dada a um mendigo, a cuja bênção fugia, talvez conseguisse alcançar um pouco de graça. A devoção tinha ido pela borda fora. De que servia rezar quando sabia que a sua alma ansiava pela própria destruição? Um certo orgulho, um certo respeito impediam-no de oferecer a Deus uma única oração à noite, embora soubesse que Deus tinha o poder de levar a sua vida enquanto dormia e enviar a sua alma para o Inferno, antes que pudesse suplicar-lhe misericórdia. O seu orgulho no seu próprio pecado, o seu temor a Deus, desprovido de amor, diziam-lhe que o seu pecado era demasiado grave para ser expiado no todo ou em parte com uma falsa homenagem ao Omnividente e ao Omnisciente.

- Muito bem, Ennis, eu sei que tens uma cabeça, e o meu ponteiro também o sabe! Quer dizer que não sabes explicar-me o que é um número irracional?

A resposta errada remexeu as brasas do seu desprezo pelos colegas. Em relação aos outros, não sentia nem vergonha nem medo. Aos domingos de manhã, quando passava pela porta da igreja, olhava friamente para os devotos, que se aglomeravam, de cabeça descoberta, em filas de quatro pessoas, no exterior da igreja, moralmente presentes a uma missa que não podiam ver nem ouvir. A sua embotada piedade e o cheiro enjoativo do óleo capilar barato com que tinham untado as cabeças afastavam-no, com repugnância, do altar em que rezavam. Desceu ao pecado da hipocrisia diante dos outros, céptico perante a sua inocência que ele conseguia iludir tão facilmente.

Na parede do seu quarto, estava pendurado um pergaminho iluminado, a certidão da sua nomeação como prefeito da confraria da Sagrada Virgem Maria.

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Capa do livro Retrato do Artista Quando Jovem
Páginas: 273
Página atual: 105

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 57
III 103
IV 156
V 186