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Capítulo 3: III

Página 107
Se alguma vez se sentia impelido a afastar de si o pecado e a arrepender-se, o impulso que o movia era o desejo de ser seu cavaleiro. Se alguma vez a sua alma, regressando timidamente à sua morada, após o frenesim da luxúria do seu corpo se ter esgotado, se voltava para aquela cujo emblema é a estrela matinal, brilhante e musical, falando do céu e infondindo a paz, era quando ouvia os seus nomes suavemente murmurados por lábios onde ainda pairavam palavras sórdidas e vergonhosas, e o sabor de um beijo lascivo.

Era estranho, Tentou compreender corno aquilo podia acontecer. Mas o crepúsculo, crescendo no interior da sala de aulas, cobriu os seus pensamentos. A sineta tocou. O mestre marcou as lições para a aula seguinte e saiu. Heron, ao lado de Stephen, começou a cantarolar, desafinadamente:

O meu excelente amigo Bombados.

Ennis, que tinha saído para o pátio, voltou, dizendo: - O criado da casa veio falar com o reitor.

Um rapaz alto, por detrás de Stephen, esfregou as mãos e disse: - Isso é óptimo. Podemos cabular a hora inteira. Ele só volta às duas e meia. Depois podes fazer-lhe perguntas sobre o catecismo, Dedalus.

Stephen, encostando-se para trás e rabiscando preguiçosamente o seu caderno, escutava a conversa à sua volta, que Heron interrompia de vez em quando, dizendo:

- Calem-se. Não façam tanta algazarra!

Era igualmente estranho que ele sentisse um árido prazer em seguir até ao fim as rígidas imposições das doutrinas da Igreja e caísse em obscuros silêncios, apenas para escutar e sentir mais profundamente a sua própria condenação. A sentença de Sant'Iago, que declara que aquele que peca contra um mandamento se torna culpado de pecar contra todos, tinha-lhe parecido exagerada, até começar a tactear nas trevas da sua própria situação.

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Capa do livro Retrato do Artista Quando Jovem
Páginas: 273
Página atual: 107

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 57
III 103
IV 156
V 186