Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 111 / 273

O padre Arnall estava sentado a uma mesa, à esquerda do altar. Usava uma capa pesada sobre os ombros; o seu rosto estava abatido e o catarro enrouquecia-lhe a voz. A figura do seu velho mestre, tão estranhamente reapareci da, recordou a Stephen a sua vida em Clongowes: os pátios extensos, a fervilhar de rapazes; o fosso quadrado; o pequeno cemitério junto à avenida principal das tílias, onde sonhara ter sido enterrado; o fogo reflectido na parede da enfermaria, onde estivera doente; o rosto triste do irmão Michael. A sua alma, diante destas recordações, voltou a ser uma alma de criança.

- Estamos hoje aqui reunidos, meus queridos irmãozinhos em Cristo, por um breve momento afastados do bulício do mundo exterior, para celebrar e honrar um dos nossos maiores santos, o apóstolo das Índias, o santo patrono do nosso colégio, São Francisco Xavier. Ano após ano, há muito mais tempo do que vós, meus queridos filhos, podeis recordar, ou que eu próprio posso recordar, os rapazes deste colégio reúnem-se nesta mesma capela para fazer o seu retiro anual antes do dia do seu santo patrono. O tempo foi passando e trouxe consigo algumas mudanças. Mesmo nos últimos anos, de quantas mudanças não se recordam muitos dos presentes? Muitos dos rapazes que estavam sentados nos primeiros bancos há poucos anos encontram-se agora, talvez, em terras distantes, nos trópicos ardentes, ou mergulhados em deveres profissionais ou em seminários, ou viajando pela vasta extensão dos mares ou, talvez já tenham sido chamados pelo glorioso Deus para outra vida e para serem julgados pelos seus actos. E, à medida que os anos passam, trazendo mais mudanças, boas e más, a memória do nosso grande santo vai sendo honrada pelos rapazes deste colégio, que todos os anos fazem o seu retiro anual nos dias que precedem o dia reservado pela nossa Santa Mãe Igreja para transmitir a todas as eras o nome e a fama de um dos maiores filhos da Espanha católica.





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