Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 116 / 273

Ele compensaria os bons e puniria os maus. Bastava um rápido instante para o julgamento de uma alma. Um instante após a morte, a alma estava a ser pesada na balança. O primeiro juízo estava terminado e a alma penetrava na morada da felicidade ou na prisão do Purgatório, ou era precipitada, uivante, no Inferno.

E não era tudo. A justiça de Deus ainda teria que se afirmar diante dos homens: depois do primeiro juízo, viria o julgamento geral. O último dia chegara. O juízo final ia começar. As estrelas do céu caíam sobre a terra como os figos de uma figueira abanada pelo vento. O sol, a grande luminária do universo, transformara-se num burel grosseiro. A luz estava tinta de sangue. O firmamento era um pergaminho enrolado. O arcanjo Miguel, o príncipe das hostes celestiais, aparecia, glorioso e terrível recortado contra o céu. Com um pé sobre o mar e outro sobre a terra, anunciava, com a sua trombeta arquiangélica, a brônzea morte do tempo. Os três toques da trombeta do anjo enchiam todo o universo. O tempo é, o tempo foi, mas o tempo deixou de ser. Ao último toque, as almas de toda a humanidade dirigir-se-ão ao vale de josafate, as ricas e as pobres, as nobres e as plebeias, as sábias e as tolas, as boas e as más. A alma de cada ser humano que tenha existido, as almas de todos os que ainda estarão para nascer, todos os filhos e filhas de Adão, todos se reúnem naquele dia supremo. E aí vem o juiz supremo! Já não é o manso Cordeiro de Deus, já não é o humilde Jesus de Nazaré, já não é o Homem da Paixão, já não é o Bom Pastor, vêem-no agora surgir por entre as nuvens, cheio de poder e majestade, assistido por nove coros de anjos, por anjos e arcanjos, principados, poderes e virtudes, tronos e domínios, querubins e serafins, Deus omnipotente, Deus eterno.





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