Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 128 / 273

Santa Catarina de Siena viu um dia um demónio e escreveu que, para não ter de olhar de novo, por um só instante, para um monstro tão horrendo, preferiria caminhar sobre brasas até ao final da sua vida. Esses demónios, que foram, outrora, belos anjos, tornaram-se tão horrorosos e feios quanto eram belos anteriormente. Escarnecem e riem-se das almas perdidas que arrastaram para a perdição. São eles, esses demónios abomináveis, que representam, no Inferno, a voz da consciência. Porque pecastes? Porque destes ouvidos às tentações dos amigos? Porque vos afastastes das práticas piedosas e das boas obras? Porque não repelistes as oportunidades de pecar? Porque não abandonastes as más companhias? Porque não renunciastes a hábitos lascivos, a hábitos impuros? Porque não escutastes os conselhos do vosso confessor? Porque não vos arrependestes, mesmo depois de terdes caído pela primeira vez, pela segunda, pela terceira, pela quarta, pela centésima vez, dos vossos maus actos e não vos voltastes para Deus que apenas aguardava o vosso arrependimento para vos absolver dos vossos pecados? Agora, já acabou o tempo do arrependimento. O tempo é, o tempo foi, mas o tempo não voltará mais! Já passou o tempo de pecar em segredo, de vos entregardes à preguiça e ao orgulho, de cobiçardes o que era proibido, de cederdes às instigações da vossa baixa natureza, de viverdes como os animais dos campos, não, pior do que os animais do campo, porque eles, pelo menos, são irracionais e não possuem uma razão para os guiar: o tempo existiu, mas jamais voltará. Deus falou-vos por muitas vozes, mas não O quisestes escutar. Não quisestes esmagar esse orgulho e essa ira no vosso peito, não quisestes restituir os bens mal ganhos, não quisestes obedecer aos preceitos da vossa Santa Igreja, nem cumprir os vossos deveres religiosos, não quisestes abandonar as más companhias, não evitastes as tentações perigosas.




Os capítulos deste livro