Personagens reais, favoritos, conspiradores, bispos, passaram como mudos fantasmas por trás do véu dos seus nomes. Todos tinham morrido: todos tinham sido julgados. De que serviria a um homem conquistar o mundo inteiro, se perdesse a sua alma? Finalmente, tinha compreendido: e a vida humana circundava-o, uma planície de paz onde os homens, semelhantes a formigas, trabalhavam em comunidade, com os seus mortos adormecidos nas campas silenciosas. O cotovelo do seu companheiro tocou-lhe e a sua alma foi tocada: e, quando falou, para responder a uma pergunta do professor, escutou a sua voz cheia da quietude da humildade e da contrição,
A sua alma mergulhava cada vez mais nas profundezas de uma paz contrita, incapaz de suportar por mais tempo o sofrimento do terror, e emitindo, à medida que ia sendo submersa, uma débil oração. Ah, sim, ele seria poupado por enquanto; ele arrepender-se-ia no seu íntimo e seria perdoado; e os que estavam lá em cima, no céu, veriam do que ele seria capaz para redimir o passado: uma boa vida, a todas as horas do dia. Haviam de ver.
- Todas, meu Deus! Todas, todas!
Apareceu à porta um mensageiro, para avisar que as confissões iam começar na capela, Quatro rapazes saíram da aula: e ouvia outros a passar no corredor. Um trémulo sopro arrepiou-lhe o coração, não mais forte do que uma leve brisa, mas, escutando e sofrendo silenciosamente, parecia-lhe ter encostado o ouvido ao músculo do seu próprio coração, senti-lo apertar-se e estremecer, escutar o palpitar dos seus ventrículos.
Não havia fuga possível. Tinha que confessar-se, que explicar por palavras o que tinha feito e pensado, pecado a pecado. Como? Como?
- Padre, eu...
O pensamento penetrou como uma espada fria e brilhante na sua carne tenra: confissão.