Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 3: III Pág. 132 / 273

Mas não ali, na capela do colégio. Confessaria todo e cada pecado dos seus actos e pensamentos, com sinceridade; mas não ali, entre os seus companheiros. Longe dali, num local escuro, murmuraria a sua própria vergonha; e suplicou humildemente a Deus que não se ofendesse por ele não ousar confessar-se na capela do colégio e, numa total abjecção do espírito, implorou silenciosamente o perdão daqueles corações juvenis que o rodeavam.

O tempo passou. Estava novamente sentado no primeiro banco da capela. A luz do dia, lá fora, já começava a declinar e, à medida que descia lentamente pelas persianas vermelhas, parecia que se punha o sol do último dia e que todas as almas estavam a ser arrebanhadas para o julgamento.

- «Fui afastado da visão dos Vossos olhos»: palavras tiradas, meus queridos irmãozinhos em Cristo, do Livro dos Salmos, capítulo trigésimo, versículo vigésimo terceiro. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.

O pregador principiou a falar num tom calmo e amistoso. O seu rosto era bondoso; uniu levemente os dedos de ambas as mãos, formando uma frágil gaiola com a junção das suas pontas.

- Esta manhã tentámos, com a nossa reflexão sobre o Inferno, fazer aquilo a que o nosso santo fundador chama, no seu livro de exercícios espirituais, a composição do lugar. Tentámos, quero eu dizer, imaginar com os sentidos da mente, na nossa imaginação, as características materiais daquele local horrendo e os tormentos físicos que suportam aqueles que se encontram no Inferno.

Esta tarde, consideraremos, por momentos, a natureza dos tormentos espirituais do Inferno.

«O pecado, deveis lembrar-vos, é uma dupla enormidade. É uma abjecta aquiescência às instigações da nossa natureza corrupta, aos nossos mais baixos instintos, àquilo que é grosseiro e bestial; e é também um afastamento dos conselhos da nossa natureza mais elevada, de tudo aquilo que é puro e sagrado, do próprio Deus Abençoado.





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