Por esse motivo, o pecado mortal é punido no Inferno com dois tipos de castigo diferentes, os físicos e os espirituais.
«Ora, de todos esses sofrimentos espirituais, o maior é, de longe, a pena da privação, tão grande, na realidade, que, só por si, é um tormento maior do que todos os outros. São Tomás, o maior dos doutores da Igreja, o doutor angélico, como é chamado, diz que a pior condenação consiste nisso mesmo, que o entendimento do homem fica totalmente privado da luz divina e o seu afecto se afasta obstinadamente da bondade de Deus. Deus, recordai-vos, é um ser infinitamente bom, e, por isso, a privação de um tal ser deve ser uma perda infinitamente dolorosa. Nesta vida, não podemos ter uma ideia muito nítida do que essa perda deverá ser, mas os condenados ao Inferno, para seu maior tormento, têm um entendimento perfeito daquilo que perderam, e compreendem que o perderam devido aos seus pecados, e que o perderam para sempre. No momento da morte, os laços da carne quebram-se e a alma ascende imediatamente para Deus, como para o centro da sua existência. Lembrai-vos, meus queridos filhos, que as nossas almas aspiram a estar junto de Deus. Nós provimos de Deus, vivemos por Deus, pertencemos a Deus: somos Seus, inalienavelmente Seus. Deus ama, com o Seu divino amor, todas as almas humanas, e cada alma humana vive nesse amor. Como poderia ser de outra forma? Cada sopro da nossa respiração, cada pensamento do nosso cérebro, cada instante da vida deriva da inesgotável bondade de Deus. E, se é doloroso para uma mãe ver-se separada do seu filho, para um homem ver-se exilado do seu lar, para um amigo ver-se afastado doutro amigo, pensai quão doloroso, quão angustiante deverá ser para uma pobre alma ver-se afastada da presença do seu Criador supremamente bom e amante, Que, do nada, deu existência a essa alma e a susteve em vida e a amou com um amor incomensurável.
