Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 4: IV Pág. 170 / 273

Agora escutava, num silêncio reverente, o apelo do padre e, por entre as palavras, escutava ainda mais nitidamente uma voz que lhe pedia que se aproximasse, que lhe oferecia um conhecimento secreto e um poder secreto. Saberia qual tinha sido o pecado de Simão Mago e qual o pecado contra o Espírito Santo que não tinha perdão. Conheceria coisas obscuras, proibidas a outros, àqueles que tinham sido concebidos e criados como filhos da ira. Conheceria os pecados, os desejos pecaminosos, os pensamentos pecaminosos e os actos pecaminosos dos outros, ouvindo-os murmurados aos seus ouvidos, no confessionário, na vergonha de uma capela mergulhada na obscuridade, pelos lábios de mulheres e raparigas; mas, misteriosamente imunizada, na sua ordenação, pela imposição das mãos, a sua alma passaria, sem contaminação, para a branca paz do altar. Nem uma sombra de pecado permaneceria nas mãos com que elevaria e dividiria a hóstia; nenhum vestígio de pecado permaneceria nos seus lábios em oração, que o fizesse comer e beber a própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Ele possuiria o seu conhecimento secreto e o seu poder secreto, tão limpo de pecado como os inocentes, e seria padre para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.

- Vou oferecer a minha missa de amanhã de manhã - disse o director - a Deus Todo Poderoso, para que lhe revele a Sua santa vontade. E o Stephen faça uma novena ao seu santo patrono, o primeiro mártir, que tem muito poder junto de Deus, para que Deus possa iluminar o seu espírito. Mas tem que ter a certeza absoluta, Stephen, de que sente vocação, porque seria terrível se mais tarde descobrisse que a não tinha. Um padre nunca mais deixa de o ser, não se esqueça. O seu catecismo diz-lhe que o sacramento das Santas Ordens é um daqueles que só podem ser recebidos uma vez, porque imprime na alma uma marca espiritual indelével que nunca mais poderá ser apagada.





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