Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 4: IV Pág. 171 / 273

É antes que deve pesar bem a questão, não depois. É uma questão solene, Stephen, porque dela pode depender a salvação da sua alma eterna. Mas rezaremos juntos a Deus.

Segurou a pesada porta do vestíbulo e deu-lhe a mão, como se fosse já um companheiro da vida espiritual. Stephen saiu para o extenso patamar ao cimo dos degraus e teve consciência da carícia do ar ameno da noite. Para os lados da igreja de Findlater, um grupo de quatro jovens caminhava de braços dados, agitando as cabeças e acompanhando a ágil melodia da concertina do seu chefe. A música passou por um instante, como sempre sucedia com os primeiros compassos de uma música súbita, pelas construções fantásticas da sua mente, dissolvendo-as de forma indolor e silenciosa, como uma onda súbita dissolve os castelos de areia construídos pelas crianças. Sorrindo da ária trivial, ergueu os olhos para o rosto do padre e, vendo nele um triste reflexo do dia que declinava, libertou lentamente a mão que tinha aceitado vagamente a sua camaradagem.

Enquanto descia os degraus, a impressão que apagava a sua inquieta autocomunhão era a de uma máscara triste reflectindo o dia em declínio, no limiar do colégio. Então, a sombra da vida do colégio passou gravemente sobre a sua consciência. Era uma vida grave, ordenada e desapaixonada, a que o aguardava, uma vida sem cuidados materiais. Imaginou como passaria a primeira noite no seminário e, com que desalento acordaria na primeira manhã, no dormitório. O odor incómodo dos longos corredores de Clongowes voltou às suas narinas e ouviu o discreto rumor dos candeeiros de gás acesos. A inquietação começou imediatamente a irradiar de todas as partes do seu ser. Seguiu-se-lhe uma aceleração da pulsação, e um tumulto de palavras sem sentido dispersou confusamente o seu raciocínio.





Os capítulos deste livro