Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 4: IV Pág. 172 / 273

Os seus pulmões dilataram-se e contraíram-se como se estivesse a inalar um ar quente, húmido e insustentável, e aspirou de novo o ar quente e húmido que pairava na sala de banhos de Clongowes, por cima da água estagnada, cor de turfa.

Acelerou-se dentro dele um instinto, acordado por estas recordações, mais forte do que a educação ou a piedade, perante a aproximação de uma tal vida, um instinto subtil e hostil, armando-o contra a aceitação. Repugnavam-lhe a frieza e a ordem dessa vida. Viu-se a levantar-se, no frio da manhã, e a seguir os outros para a missa matinal, tentando em vão lutar, com as suas orações, contra o desfalecimento causado pelo enjoo. Viu-se sentado, a jantar, entre a comunidade de um colégio. Que teria acontecido, então, ao seu acanhamento profundamente enraizado que o fazia detestar comer ou beber sob um tecto estranho? Que sucederia ao seu espírito orgulhoso que sempre o fizera conceber-se como um ser à parte em qualquer lugar?

O Reverendo Stephen Dedalus, S. J.

O seu nome, nessa nova vida, surgiu com todas as letras diante dos seus olhos, e seguiu-se-lhe uma sensação mental de um rosto ou uma cor indefinidos. A cor empalideceu e intensificou-se, como um brilho mutável de um vermelho pálido de tijolo. Seria o brilho avermelhado que tantas vezes vira, nas manhãs de Inverno, nas bochechas escanhoadas dos padres? O rosto era desprovido de olhos, azedo e devoto, afogueado por manchas róseas de ira sufocada. Seria o espectro mental do rosto de um dos jesuítas a quem alguns dos rapazes chamavam Bochechas de Lanterna e outros Campbell Velhaco?

Passava, nesse momento, diante do lar dos jesuítas, na Rua Gardiner, e perguntou vagamente a si mesmo qual seria a sua janela, se entrasse para a ordem.





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