Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 192 / 273

(O orador sintetiza, os poetas dissertam nos seus versos)

As crises, as vitórias e as secessões da história romana tinham-lhe sido transmitidas nas palavras banais in tanto discrimine e tentara explorar a vida social da cidade das cidades através das palavras implere ollam denariorum (em questão de tal importância), que o reitor traduzira sonoramente como encher um pote de denários. As páginas do seu velho Horácio nunca lhe tinham parecido frias ao toque, nem mesmo quando os seus próprios dedos estavam gelados; eram páginas humanas e, cinquenta anos antes, haviam sido folheadas pelos dedos humanos de John Duncan Inverarity e do seu irmão William Malcom Inverarity. Sim, eram esses os nobres nomes inscritos na desbotada guarda do livro e, até mesmo para um fraco latinista como ele, os versos desbotados conservavam-se tão fragrantes como haviam sido naqueles anos de mirto, lavanda e verbena; todavia, doía-lhe pensar que nunca passaria de um tímido convidado no festim da cultura mundial, e que a erudição conventual, nos termos da qual se esforçava por forjar uma filosofia estética, não era mais apreciada pela era em que vivia do que a gíria subtil e curiosa da heráldica e da falcoaria.

O edifício cinzento do Trinity, à sua esquerda, pesadamente assente na ignorância da cidade, como uma pedra baça incrustada num grosso anel, arrastou a sua mente para a terra e, enquanto se esforçava, arrastando-se para um lado e para o outro, por libertar os pés dos grilhões da consciência reformada, deparou com a grotesca estátua do poeta nacional da Irlanda.

Fitou-a com raiva; e, embora a indolência do corpo e da alma por ela trepassem como vermes invisíveis, subindo pelos pés arrastados e pelas pregas do casaco e em volta da cabeça servil, parecia humildemente consciente da sua indignidade.





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