Era um Firbolg no casaco emprestado de um Milésio; e pensou no seu amigo Davin, o estudante camponês. Era uma brincadeira entre ambos, mas o jovem camponês aceitava-a despreocupadamente:
- Continua, Stevie, sei que tenho a cabeça dura, tu já mo disseste. Chama-me o que quiseres.
A deformação banal do seu nome de baptismo nos lábios do seu amigo tinha agradado a Stephen, quando a ouvira, porque ele era sempre tão formal a falar com os outros, como os outros eram com ele. Muitas vezes, sentado nos aposentos de Davin na Rua Grantham, reparando nas botas bem feitas do seu amigo, que flanqueavam a parede, par a par, e recitando aos ouvidos simples do amigo versos e cadências alheias que eram apenas disfarces dos seus próprios desejos ou frustrações, o rude espírito firbolgiano do seu ouvinte arrastara para ele a sua mente e depois repelira-a de novo, atraindo-o pela tranquila cortesia natural com que o escutava, ou por uma curiosa expressão em inglês antigo, ou ainda pela força do seu gosto pelos exercícios físicos violentos - porque Davin sempre admirara Michael Cusack, o Gaélico - e repelindo-o rápida e subitamente pela obtusidade da sua compreensão ou por um embotamento dos sentimentos ou por um olhar de mudo terror nos seus olhos, o terror de uma alma proveniente de uma famélica aldeia irlandesa, onde o recolher obrigatório constitui um pavor nocturno.
Juntamente com as recordações das proezas do seu tio Mat Davin, o atleta, o jovem camponês venerava a triste lenda da Irlanda. Os mexericos dos seus colegas, que tentavam tornar a vida banal do colégio mais interessante, a qualquer custo, fazia com que o considerassem um jovem feniano. A ama tinha-lhe ensinado irlandês e moldado a sua rude imaginação à luz dos mitos irlandeses.
