Ao meu primo em primeiro grau, Fonsy Davin, arrancaram-lhe a roupa toda; devia actuar como defesa dos de Limerick, mas passou metade do tempo como avançado, berrando que nem um doido. Nunca me hei-de esquecer desse dia. Um dos rapazes de Croke, a certa altura, atirou-lhe um golpe traiçoeiro com o stick e juro por Deus que só por um triz não lhe acertou numa têmpora. Oh, assim Deus me ajude, se o patife o apanhasse daquela vez, ficava arrumado.
- Ainda bem que ele escapou - disse Stephen, rindo -, mas, com certeza, não foi essa a coisa estranha que te aconteceu, pois não?
- Bom, suponho que isto não te interesse mesmo nada, mas, pelo menos, foi tal a confusão depois do jogo, que eu perdi o comboio para casa e não consegui arranjar um carro que me desse uma boleia, pois, por pouca sorte minha, havia um comício, nesse dia, em Castletownroche, e todos os carros da região tinham ido para lá. Por isso, não tinha outro remédio senão passar lá a noite ou meter pés ao caminho. Bom, fiz-me à estrada e lá fui andando; a noite começava a cair quando cheguei às colinas de Ballyhoura, que ficam a mais de dez milhas de Kilmallock, e, a partir daí, há uma estrada solitária. Não se vêem sinais de uma habitação cristã ao longo dessa estrada, nem se ouve um único som. Estava escuro como breu. Por uma ou duas vezes, parei debaixo de um arbusto para reacender o meu cachimbo e, se o orvalho não fosse tão espesso, ter-me-ia estendido no chão e dormido. Finalmente, depois de uma curva da estrada, avistei uma casinha, com luz numa janela. Fui até lá e bati à porta. Uma voz perguntou-me quem era e eu respondi que tinha ido assistir ao jogo em Buttevant e voltava a pé para casa, e que ficaria muito grato por um copo de água. Ao fim de algum tempo, uma mulher jovem veio abrir a porta e trouxe-me uma grande caneca de leite.
