Stephen, detido pela multidão junto da porta, ficou parado, irresoluto, Por baixo da aba larga e descaída de um chapéu mole, os olhos escuros de Cranly observavam-no.
- Assinaste? - perguntou Stephen.
Cranly fechou a sua grande boca de lábios finos, recolheu-se por um momento e respondeu:
- Ego habeo (eu assinei).
- Para que é?
- Quod? (o quê?).
- Para que é aquilo?
Cranley voltou o rosto pálido para Stephen e disse com voz branda e amarga:
- Per pax universalis (pela paz universal).
Stephen apontou para a fotografia do Czar e disse:
- Tem uma cara de Cristo embriagado.
O desprezo e a ira da sua voz voltaram para si os olhos de Cranly que observavam calmamente as paredes do vestíbulo.
- Estás aborrecido? - perguntou ele.
- Não - respondeu Stephen.
- Estás de mau humor?
- Não.
- Credo ut vos sanguinarius mendax estis - disse Cranly - quia facies vostra monstrat ut vos in damno maio humore estis (Creio que vós sois brutalmente mentiroso, pois o vosso rosto revela que estais terrivelmente de mau humor).
Moyhihan, a caminho da mesa, disse ao ouvido de Stephen:
- MacCann está em perfeita forma. Pronto a derramar a última gota. Um mundo inteiramente novo. Nada de estimulantes nem de votos para as mulheres.
Stephen sorriu do estilo desta confidência e, depois de Moynihan ter passado, voltou a enfrentar de novo os olhos de Cranly.
- Talvez me possas explicar - disse ele - por que motivo ele derrama a sua alma com tal à-vontade no meu ouvido. És capaz?
A testa de Cranly franziu-se de irritação. Olhou para a mesa sobre a qual Moynihan se inclinara para acrescentar o seu nome à lista e disse redondamente:
- Um labrego!
- Quis est in maio humore - disse Stephen -, ego aut vos? (Quem está de mau humor, eu ou vós?)
Cranly não acusou o remoque.