- Descobres outra maneira de fazer a pergunta? - Não - disse Stephen,
- Não consegues pensar noutra maneira? - perguntou o rapaz.
Olhou para Stephen por cima das roupas da cama, enquanto falava. Depois, recostou-se na almofada e disse:
- Há outra maneira, mas não te digo qual é.
Por que não lhe diria? O pai dele, que criava cavalos de corrida, também devia ser um magistrado, como o pai do Saurin e o pai do Rache Repugnante. Pensou no seu próprio pai, lembrando-se de como ele cantava canções enquanto a mãe tocava, e de como lhe dava sempre um xelim quando lhe pedia seis pences, e sentiu pena de que ele não fosse um magistrado como os pais dos outros rapazes. Então, por que tinha sido enviado para aquele colégio com eles? Mas o pai tinha-lhe dito que ele seria bem-vindo porque o seu tio-avô tinha feito ali um discurso ao libertador, cinquenta anos antes. Reconheciam-se as pessoas daquela época pelos seus trajes antigos; perguntou a si mesmo se teria sido na época em que os rapazes de Clongowes usavam casacos azuis com botões de latão, coletes amarelos e bonés de pele de coelho, e bebiam cerveja como adultos, e tinham os seus próprios galgos para caçar lebres.
Olhou para a janela e notou que a luz do dia tinha enfraquecido. Haveria uma luz cinzenta e nublada sobre o recreio. Não vinha de lá ruído algum. Os alunos deviam estar a fazer as suas composições ou talvez o padre Arnall estivesse a fazer a leitura.
Era estranho que não lhe tivessem dado remédio algum. Talvez o irmão Michaellhe trouxesse um, quando voltasse. Tinha ouvido dizer que, na enfermaria, obrigavam os rapazes a beber coisas com um cheiro insuportável. Mas sentia-se melhor do que anteriormente. Devia ser agradável ir melhorando a pouco e pouco.
