Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 211 / 273

- A seguinte? - disse MacCann. - Hum!

Soltou uma gargalhada alta, abriu um amplo sorriso e repuxou por duas vezes a pêra cor de palha que lhe pendia do queixo saliente.

- A questão seguinte é assinar a petição.

- Paga-me alguma coisa se eu assinar? - perguntou Stephen.

- Pensei que fosse um idealista - disse MacCann.

O estudante com ar de cigano olhou em volta e dirigiu-se aos espectadores, num balido indistinto:

- Pelo Inferno, eis uma questão curiosa. Considero essa noção como uma noção mercenária.

A sua voz caiu no silêncio. Ninguém prestou atenção às suas palavras. Ele voltou para Stephen o rosto azeitonado, de expressão equina, convidando-o a falar de novo.

MacCann começou a dissertar com fluente energia acerca do manifesto do Czar, de Stead, da arbitragem do desarmamento geral em casos de disputas internacionais, dos sinais dos tempos, da nova humanidade e do novo evangelho da vida que faria dela objecto da comunidade, com o fim de assegurar, pelo mínimo preço possível, a maior felicidade possível para o maior número de pessoas possível.

O estudante aciganado reagiu ao final do discurso gritando: - Três vivas pela fraternidade universal!

- Dá-lhe, Temple - disse um estudante forte e corpulento, perto dele. - Depois pago-te uma cerveja.

- Eu acredito na fraternidade universal - disse Temple, olhando em volta com os seus escuros olhos ovais. - Marx não passa de um proletário.

Cranly apertou-lhe fortemente o braço, para o moderar, sorrindo com constrangimento, e repetiu:

- Calma, calma, calma!

Temple tentou libertar o braço e prosseguiu, com a boca salpicada por uma espuma fina:

- O socialismo foi fundado por um irlandês e o primeiro homem que pregou a liberdade de pensamento na Europa foi Collins.





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