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Capítulo 5: V

Página 221
Todavia, naquele momento, submissos e alerta, estavam iluminados por uma minúscula centelha humana, a janela de uma alma encolhida, comovente e auto-exacerbada.

- Quanto a isso - disse Stephen, num parêntese cortês -, somos todos animais. Eu também sou um animal.

- Pois és - disse Lynch.

- Mas, neste momento, estamos num mundo espiritual - prosseguiu Stephen. - O desejo e a repugnância excitados por meios estéticos impróprios não são, verdadeiramente, emoções estéticas, não só porque são de carácter cinético, mas também porque são apenas físicos. A nossa carne sente repugnância por aquilo que receia e reage ao estímulo daquilo que deseja, por meio de uma acção puramente reflexa do sistema nervoso. A nossa pálpebra fecha-se antes de nos apercebermos de que a mosca ia entrar no nosso olho.

- Nem sempre - disse Lynch, criticamente.

- Da mesma forma - disse Stephen -, a tua carne reagiu ao estímulo de uma estátua nua, mas foi, digo eu, apenas uma acção reflexa dos nervos. A beleza expressa pelo artista não pode acordar em nós uma emoção cinética nem uma sensação puramente física. Acorda, ou deveria acordar, ou induz, ou devia induzir, uma estase estética, uma piedade ideal ou um terror ideal, uma estase evocada, prolongada, e finalmente dissolvida por aquilo a que eu chamo o ritmo da beleza.

- O que é isso exactamente? - inquiriu Lynch.

- O ritmo - disse Stephen - é a primeira relação estética formal de parte a parte, em qualquer todo estético ou de um todo estético para com a sua parte ou partes, ou de qualquer parte em relação ao todo estético a que pertence.

- Se isso é ritmo - disse Lynch -, diz-me lá a que chamas beleza; e, por favor não te esqueças que, embora tenha comido um pedaço de bosta de vaca uma vez, só admiro a beleza.

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Capa do livro Retrato do Artista Quando Jovem
Páginas: 273
Página atual: 221

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 57
III 103
IV 156
V 186