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Capítulo 5: V

Página 231
Essa arte, sendo inferior, não apresenta as formas de que falei, nitidamente distintas entre si. Mesmo na literatura, a arte mais elevada e mais espiritual, essas formas se confundem com frequência. A forma lírica é, efectivamente, a mais simples representação verbal de um instante de emoção, um grito rítmico como o que, há séculos, servia de incitamento ao remador ou ao homem que arrastava pedras por uma encosta acima. Aquele que o solta está mais consciente do instante de emoção do que da sua própria sensação de emoção. A forma épica mais simples é a que emerge da literatura lírica quando o artista se demora sobre si mesmo como centro de um acontecimento épico, e essa forma progride até o centro de gravidade emocional ser equidistante em relação ao artista e aos outros. A narrativa deixa de ser puramente pessoal. A personalidade do artista passa para a própria narração, fluindo em volta das personagens e da acção como um mar vital. Esta progressão nota-se facilmente naquela antiga balada inglesa chamada Turpin Hero, que principia na primeira pessoa e termina na terceira. Alcança-se a forma dramática quando a vitalidade que fluiu e refluiu em volta de cada personagem a enche com tal força vital que essa personagem alcança uma vida estética própria e intangível. A personalidade do artista, a princípio um grito ou uma cadência ou uma disposição, e depois uma narrativa fluida e rápida, refina-se na inexistência, personifica-se, por assim dizer. A imagem estética na forma dramática é a vida purificada na imaginação humana e reprojectada por ela. O mistério da estética, como o da criação material, está realizado. O artista, como o Deus da criação, permanece no interior da sua obra, ou por trás dela, para além dela ou acima dela, invisível, evaporado, indiferente, a aparar as unhas.

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pág. 231 (Capítulo 5)

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Capa do livro Retrato do Artista Quando Jovem
Páginas: 273
Página atual: 231

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 57
III 103
IV 156
V 186