- Tentando evaporá-las também - disse Lynch.
Começou a cair um chuvisco fino do céu alto e nublado e eles atravessaram o relvado ducal para chegar à Biblioteca Nacional antes que principiasse o aguaceiro.
- Qual é a tua finalidade - perguntou Lynch abruptamente - ao dissertar acerca da beleza e da imaginação nesta ilha miserável de que Deus já se esqueceu? Não é de admirar que o artista se retire para dentro ou para trás da sua obra depois de ter observado este país.
A chuva caía com mais força. Quando alcançaram a passagem junto da mansão Kildare, encontraram muitos estudantes abrigados por baixo da arcada da biblioteca. Cranly, encostado a uma coluna, palitava os dentes com um fósforo afiado, escutando alguns companheiros. Havia algumas raparigas perto da entrada. Lynch sussurrou a Stephen:
- A tua querida está além.
Stephen tomou lugar, silenciosamente, no degrau abaixo do grupo de estudantes, indiferente à chuva que caía cada vez mais fortemente, voltando, de vez em quando, os olhos para ela. Também ela se encontrava silenciosa entre as suas companheiras. Falta-lhe o padre para namoriscar, pensou ele com uma amargura consciente, recordando-se da atitude que lhe notara. Lynch tinha razão. A sua mente, esvaziada de teorias e de coragem, recaiu numa paz indiferente.
Ouvia a conversa dos estudantes. Falavam de dois amigos que tinham passado no exame final de Medicina, das probabilidades que tinham de conseguir lugares em transatlânticos, de terem clientelas pobres ou ricas.
- Tudo isso é ilusão. O melhor é um consultório no interior da Irlanda.
- O Hynes esteve dois anos em Liverpul e diz a mesma coisa.
Disse que aquilo era um buraco infecto. Só trabalhos de obstetrícia, nada mais.
- Queres dizer que é preferível ter um trabalho aqui no campo do que numa cidade rica como aquela? Eu conheço um sujeito.