Sorriu ao pensar na imagem do deus, porque lhe recordou um juiz narigudo com a sua peruca, introduzindo vírgulas num documento que segurava a toda a extensão do braço, e compreendeu que não se recordaria do nome do deus se não se assemelhasse a uma imprecação irlandesa. Era uma loucura. Mas seria devido a essa loucura que ele estava prestes a deixar para sempre a casa de oração e de prudência em que nascera e a ordem de vida em que fora criado?
As aves voltaram a descrever círculos, com os seus gritos agudos, em volta do beiral saliente da casa, voando, escuras, contra o ar que esmaecia. Que aves seriam? Pensou que pudessem ser andorinhas que tivessem regressado do Sul. Então seria a vez de ele partir, porque elas eram aves que estavam sempre a ir e a vir, construindo ninhos efémeros sob os beirais das casas dos homens e abandonando sempre esses ninhos ao partirem.
Inclinai vossos rostos, Oona e Aleel.
Contemplo-os da forma por que uma andorinha
Contempla o ninho que fez sob um beiral,
Antes de partir, voando, p'la vastidão marinha.
Uma suave alegria líquida, como o ruído das águas, fluiu sobre a sua memória e sentiu, no seu coração, a paz suave dos espaços silenciosos dos céus ténues e esmaecidos, por sobre as águas, do silêncio oceânico, das andorinhas a voar através da bruma marinha por sobre as águas em movimento.
Uma suave alegria líquida jorrou sobre as palavras onde as vogais longas e suaves colidiam silenciosamente e desapareciam, recuando e regressando, sacudindo as campainhas brancas das suas ondas num tinido mudo e num mudo repique, e num grito suave e baixo que ia esmaecendo; e sentiu que o presságio que procurara nas aves que voavam agilmente no espaço pálido de céu por cima dele tinha partido do seu coração, como um pássaro de uma torre, silencioso e veloz.
