Símbolo de partida ou de solidão? Os versos entoados ao ouvido da sua memória compuseram lentamente, diante dos seus olhos reminiscentes, a cena do baile na noite da inauguração do Teatro Nacional.' Ele estava sozinho na coxia do balcão, fitando, com olhos fatigados, os intelectuais de Dublim sentados na primeira fila e os aparatosos trajos de cena e os bonecos humanos enquadrados pelas luzes ofuscantes da ribalta. Atrás dele, um corpulento polícia suava e parecia, a todo o momento, prestes a entrar em cena. Os apupos, assobios e piadas, emitidos pelos seus colegas estudantes espalhados pela sala, atravessavam-na em rajadas repentinas.
- Uma difamação da Irlanda!
- De fabrico alemão.
- Blasfémia!
- Nós nunca vendemos a nossa fé!
- Uma mulher irlandesa nunca faria uma coisa semelhante!
- Fora com os ateus amadores.
- Fora com os budistas incipientes.
Um assobio rápido e súbito desceu das janelas, por cima dele, e Stephen apercebeu-se de que as lâmpadas eléctricas tinham sido acesas na sala de leitura. Dirigiu-se ao vestíbulo colunado, agora calmamente iluminado, subiu a escadaria e passou pelo torniquete que rangia.
Cranly estava sentado perto dos dicionários. Tinha diante de si, sobre o suporte de madeira, um grosso volume aberto no frontispício. Estava reclinado na sua cadeira, inclinando o ouvido como o de um confessor para o rosto de um estudante de Medicina que lhe lia um problema da página de xadrez de um jornal. Stephen sentou-se à sua direita e o padre do outro lado da mesa fechou o seu exemplar de O Comprimido com um ar furioso, pondo-se de pé.
Cranly fitou-o plácida e vagamente. O estudante de Medicina prosseguiu em voz mais baixa:
- Peão na quarta do rei.
- É melhor irmo-nos embora, Dixon - advertiu Stephen.