- Ele foi queixar-se.
Dixon dobrou o jornal e ergueu-se com dignidade, dizendo:
- Os nossos homens retiram em boa ordem.
- Com as armas e o gado - acrescentou Stephen, apontando para o livro de Cranly, que se intitulava Doenças dos Bovinos.
Enquanto passavam entre as mesas, Stephen disse:
- Cranly, quero falar contigo.
Cranly não respondeu nem se voltou. Pousou o livro sobre o balcão e afastou-se, fazendo soar os pés bem calçados no sobrado. Na escadaria parou e, olhando distraidamente para Dixon, repetiu:
- O raio do peão ao raio da quarta do rei.
- Chama-lhes o que quiseres.
Tinha uma voz mansa e sem timbre e modos corteses e deixava ver, de vez em quando, um anel de brasão num dos dedos da sua mão limpa e gorducha.
Quando atravessavam o vestíbulo, aproximou-se deles um homem de diminuta estatura. Sob a cúpula do seu minúsculo chapéu, o rosto mal barbeado ostentou um sorriso de prazer e ouviu-se um vago murmúrio. Os seus olhos eram melancólicos como os de um macaco.
- Boa noite, meus senhores - disse o rosto simiesco de barba crescida.
- O tempo está quente, para Março - disse Cranly. - As janelas lá de cima estão abertas.
Dixon sorriu e fez rodar o anel. No rosto simiesco, escuro e enrugado, a boca humana franziu-se de suave prazer e a sua voz soou, ronronante:
- Um tempo magnífico para Março. Simplesmente magnífico.
- Estão lá em cima duas jovens muito bem parecidas, capitão, e fartas de esperar - disse Dixon.
Cranly sorriu e observou gentilmente:
- O capitão só tem um amor: Sir Walter Scott. Não é assim, capitão?
- Que anda agora a ler, capitão? - inquiriu Dixon. - A Noiva de Lammermoor?
- Adoro o velho Scott - disseram os lábios flexíveis. - Acho que escreve coisas maravilhosas.