Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 246 / 273

Nenhum escritor pode chegar aos calcanhares de Sir Walter Scott.

Agitou suavemente no ar a sua mão fina, acastanhada e enrugada, acompanhando o seu louvor, e as suas pálpebras finas e rápidas cobriram diversas vezes os olhos tristes.

Aos ouvidos de Stephen, a sua fala era ainda mais triste: tinha um tom afectado, baixo e húmido, prejudicado por defeitos de pronúncia, e, ao escutá-lo, perguntou a si mesmo se seria verdadeira a história que afirmava que era nobre o sangre fraco que corria no seu corpo mirrado, resultado de um amor incestuoso.

As árvores do parque estavam carregadas de chuva; e a chuva continuava a cair como sempre sobre o lago, que fazia lembrar um jacente escudo cinzento. Cruzava-o um bando de cisnes, e tanto a água como a praia estavam conspurcadas com o seu muco viscoso, de um branco esverdeado. E eles abraçaram-se suavemente, impelidos pela luz cinzenta e húmida, as árvores silenciosas e molhadas, o lago semelhante a um escudo estendido diante deles, os cisnes. Abraçaram-se sem alegria e sem paixão, o braço dele pousou sobre o pescoço da irmã. Ela trazia uma capa de lã cinzenta que a envolvia, obliquamente, entre o ombro e a cintura, e a sua cabeça loura estava inclinada num recato transigente. Ele tinha os cabelos soltos, de um castanho-arruivado, e mãos ternas, bem modeladas e fortes, cobertas de sardas. Não lhe via o rosto. O rosto do irmão estava inclinado sobre os cabelos louros dela, que reacendiam a chuva. A mão coberta de sardas, forte, bem modelada e acariciadora, era a mão de Davin.

Franziu o sobrolho, irritado com este pensamento e com o homúnculo mirrado que o evocara. As piadas do pai ao bando de Bantry vieram-lhe à memória. Afastou-as da mente e voltou a meditar no seu próprio pensamento.





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