Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 249 / 273

- Vai-te embora daqui - disse, abruptamente. - Vai-te embora, penico malcheiroso. Não passas de um penico malcheiroso.

Goggins desceu até ao cascalho e regressou imediatamente ao seu lugar, bem-humorado. Temple voltou-se de novo para Stephen e perguntou-lhe:

- Acredita na lei da hereditariedade?

- Estás bêbedo ou o que é que queres dizer? - perguntou ranly, olhando em volta com uma expressão de espanto.

- A frase mais profunda que jamais se escreveu - disse Temple, com entusiasmo - é a frase que está no final da zoologia. A reprodução é o princípio da morte.

Tocou timidamente no cotovelo de Stephen e perguntou ansiosamente:

- Sente como isto é profundo, uma vez que é um poeta? Cranly apontou-o com o longo dedo indicador.

- Olhem para ele! - disse aos outros, com desprezo. - Contemplem a esperança da Irlanda!

Os outros riram-se da frase e do gesto. Temple voltou-se corajosamente para ele, dizendo:

- Cranly, estás sempre a troçar de mim. Eu bem vejo. Mas eu valho tanto como tu. Sabes o que penso de ti agora, comparado comigo?

- Meu caro - disse Cranly em tom cortês -, tu és incapaz, bem o sabes, absolutamente incapaz de pensar.

- Mas sabes - prosseguiu Temple - o que eu penso a teu respeito e a meu respeito, quando nos comparo?

- Desembucha, Temple! - gritou o estudante corpulento, do seu lugar. - Troca isso por miúdos!

Temple voltou-se para a direita e para esquerda, fazendo gestos súbitos e débeis, ao falar.

- Eu sou um castrado - disse ele, abanando a cabeça com desespero, - Sou e sei que o sou. E admito que o sou.

Dixon deu-lhe uma leve pancada no ombro e disse suavemente:

- E isso só te fica bem, Temple.

- Mas ele - disse Temple, apontando para Cranly - também é um castrado, como eu.





Os capítulos deste livro