O chapéu caíra-lhe para a testa. Empurrou-o para trás e, na sombra das árvores, Stephen viu o seu rosto pálido, enquadrado pela escuridão, e os seus grandes olhos negros. Sim. O rosto dele era belo e o seu corpo era forte e rijo. Tinha falado do amor de mãe. Compreendia, portanto, os sofrimentos das mulheres, a fragilidade dos seus corpos e das suas almas; e protegê-las-ia com um braço forte e resoluto e inclinaria a sua mente diante delas.
Para longe, então: é tempo de partir. Uma voz falava docemente ao coração solitário de Stephen, pedindo-lhe que partisse e dizendo-lhe que a sua amizade estava a chegar ao fim. Sim; partiria. Não podia lutar contra outro. Sabia qual era o seu papel.
- É provável que me vá embora - disse.
- Para onde? - inquiriu Cranly.
- Para onde puder - disse Stephen.
- Sim - disse Cranly. - Vai ser-te difícil viver aqui, agora. Mas é isso que te faz partir?
- Tenho de ir - replicou Stephen.
- Porque - prosseguiu Cranly - não precisas de te considerar forçado a partir se o não desejas, nem sentir-te um herege ou um proscrito. Há muitos crentes que pensam como tu. Isso surpreende-te? A Igreja não é o edifício de pedra, nem o clero e os seus dogmas. É a massa daqueles que nasceram no seu seio. Não sei o que pretendes fazer da tua vida. Aquilo de que me falaste na noite em que estivemos a conversar no exterior da estação da Rua Harcourt?
- Sim - disse Stephen, sorrindo involuntariamente diante da forma por que Cranly recordava os pensamentos relacionando-os com locais. - Naquela noite em que gastaste meia hora a discutir com o Dohetry sobre o caminho mais Curto entre Sallygap e Larras.
- Idiota! - disse Cranly, com calmo desprezo. - Que sabe ele a respeito do caminho que vai de Sa1lygap a Larras? Ou que sabe ele a respeito seja do que for? Com aquela sua grande cabeça de celha a transbordar?
Soltou uma gargalhada longa e forte,
- Então? - disse Stephen.