Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 268 / 273

21 de Março, à noite. Livre. Alma livre e imaginação livre. Os mortos que enterrem os mortos. Sim. E os mortos que se casem com os mortos.

22 de Março. Na companhia de Lynch, segui uma corpulenta enfermeira. Ideia de Lynch. Não me agradou. Dois galgos magros e esfomeados atrás de uma bezerra.

23 de Março. Não a vejo desde aquela noite. Estará doente?

Sentada junto da lareira, talvez com o xaile da mãe sobre os ombros. Mas não impertinente. Um pratinho de papa? Queres comer, agora?

24 de Março. Comecei por ter uma discussão com a minha mãe. Assunto: B. A. V M. (Bem-Aventurada Virgem Maria) Prejudicado pelo meu sexo e juventude.

Para me escapar, opus o relacionamento entre Jesus e o Pai ao de Maria e seu filho. Disse que a religião não é uma maternidade. A mãe mostrou-se indulgente. Disse que eu tenho uma mentalidade estranha e que li de mais. Não é verdade. Li pouco e compreendi ainda menos. Depois, ela disse que eu haveria de regressar à religião porque tinha um espírito inquieto. Isto quer dizer sair da Igreja pela porta das traseiras do pecado e voltar a entrar pela clarabóia do arrependimento. Não posso arrepender-me. Disse-lhe isso e pedi-lhe seis pence. Consegui três.

Depois, fui à faculdade. Outra discussão com o pequeno Ghezzi, com a sua cabeça redonda e os seus olhos brejeiros. Desta vez, acerca de Bruno de Nole. Principiou em italiano e acabou no seu inglês com pronúncia italiana. Afirmou que Bruno tinha sido terrivelmente herético. Eu disse que ele tinha sido terrivelmente queimado. Concordou com isto, com algum desgosto. Depois deu-me a receita daquilo a que ele chama risotta alla bergamasca. Quando pronuncia um o breve, projecta os lábios carnudos, como se beijasse a vogal.





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