Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 5: V Pág. 272 / 273

Favor consultar jornais europeus e asiáticos. Contou-nos que conheceu lá um velho, numa cabana, na montanha. O velho tinha olhos vermelhos e um cachimbo curto. O velho falou-lhe em irlandês. Mulrennan falou em irlandês. Depois, o velho e Mulrennan falaram em inglês. Mulrennan falou-lhe do universo e das estrelas. O velho escutou, sentado, a fumar e a cuspir.

Por fim disse:

- Ah, deve haver criaturas terrivelmente estranhas nos confins do mundo.

Tenho medo dele. Medo dos seus olhos duros, orlados de vermelho. É com ele que tenho de bater-me durante toda esta noite até o dia chegar, até um de nós jazer morto, agarrando-o pelo pescoço nodoso até... Até o quê? Até ele se render? Não. Não lhe quero mal.

15 de Abril, Encontrei-a hoje, inesperadamente, na Grafton Street. A multidão empurrou-nos um para o outro. Parámos ambos. Ela perguntou-me porque nunca mais fora visitá-la, disse que tinha ouvido muitas histórias a meu respeito, Só queria ganhar tempo. Perguntou-me se continuava a escrever poemas. Para quem?, perguntei eu. Isto confundiu-a ainda mais e eu senti-me pesaroso e mesquinho. Abri imediatamente a válvula e liguei o aparelho refrigerador heróico-espiritual, inventado e patenteado em todos os países por Dante Alighieri. Desatei a falar rapidamente de mim e dos meus planos. A meio da conversa, fiz, lamentavelmente, um gesto súbito de natureza revolucionária. Devo ter ficado parecido com um sujeito que atira ao ar um punhado de ervilhas. As pessoas começaram a olhar para nós. Ela despediu-se pouco depois e, ao partir, disse-me que desejava que eu conseguisse fazer o que dizia.

Ora eu acho isto perfeitamente amistoso, não lhes parece? Sim, hoje gostei dela. Muito ou pouco? Não sei. Gostei dela e isso parece-me um sentimento novo.





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