Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 47 / 273

- A outra mão! - gritou o prefeito dos estudos.

Stephen encolheu a mão direita, inchada e trémula, e estendeu a esquerda. A manga da sotaina roçagou de novo quando a palmatória se ergueu e um som forte e esmagador e uma terrível dor, lancinante e entorpecedora, fê-lo enclavinhar a mão, com a palma e os dedos transformados numa massa lívida e trémula. As lágrimas escaldantes irromperam dos seus olhos e, ardendo de vergonha, de agonia e de pavor, encolheu, aterrorizado, o braço que tremia e soltou um gemido de dor. Todo o seu corpo estremecia, num estertor de medo e, cheio de vergonha e de raiva, sentiu o grito escaldante brotar-lhe da garganta e as lágrimas ardentes escorrerem dos seus olhos, pelas faces em fogo.

- Ajoelhe-se - gritou o prefeito dos estudos.

Stephen apressou-se a ajoelhar-se, comprimindo as mãos doridas contra os lados do corpo. A lembrança de como elas estavam doridas e inchadas fê-lo, subitamente, sentir pena delas, como se não lhe pertencessem, mas a outra pessoa, de quem sentisse pena. E, quando se ajoelhou, dominando os últimos soluços na garganta e sentindo a dor ardente e entorpecedora junto às suas ilhargas, pensou nas mãos que tinha estendido com as palmas voltadas para cima e no contacto firme do prefeito dos estudos quando tinha segurado os dedos trémulos, e na massa dolorida, inchada e avermelhada da palma da mão e dos dedos que estremeciam desesperadamente no ar.

- Voltem ao trabalho, todos - exclamou o prefeito dos estudos, junto da porta. - O padre Dolan volta cá todos os dias para ver se há algum rapaz, algum vadio preguiçoso, que precise de palmatoadas. Todos os dias. Todos os dias.

A porta fechou-se atrás dele.

A classe silenciosa continuou a copiar os exercícios. O padre Arnall ergueu-se do seu lugar e começou a andar entre eles, ajudando os rapazes com palavras delicadas e explicando-lhes os erros que tinham cometido.





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