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Capítulo 2: II

Página 59

No regresso a casa, o tio Charles gostava de passar pela capela e, como a pia ficasse longe do alcance de Stephen, o velho mergulhava nela a mão e espargia com ela vivamente as roupas do sobrinho e o chão do pórtico. Para orar, ajoelhava-se sobre o seu lenço vermelho e lia, num murmúrio, as orações de um livro ensebado pelo polegar molhado, com verbetes impressos no fundo de cada página. Stephen ajoelhava ao seu lado, respeitando a sua piedade, embora não a partilhasse. Perguntava frequentemente a si mesmo por que rezaria o seu tio-avô com tanta gravidade. Talvez rezasse pelas almas do Purgatório ou pela graça de uma morte feliz, ou talvez pedisse a Deus que lhe devolvesse uma parte da enorme fortuna que tinha dissipado em Cork.

Aos domingos, Stephen ia dar um passeio com o pai e o tio-avô. O velho andava bem, apesar dos seus calos, e chegavam a cobrir dez a doze milhas de estrada. A pequena aldeia de Stillorgan ficava situada numa encruzilhada. Eles tomavam ora o caminho das montanhas de Dublim, ora a estrada de Goatstown, daí voltando para Dundrum e regressando a casa por Sandyford. Caminhando pela estrada ou detendo-se numa suja taberna à beira do caminho, os dois homens falavam constantemente dos assuntos que mais lhes interessavam, a política irlandesa, Munster, I as lendas familiares, e Stephen escutava tudo isto avidamente. As palavras que não entendia, repetia-as vezes sem conta, para si mesmo, até as ter aprendido de cor; e, através delas, ia vislumbrando o mundo real que o cercava. A hora em que tomaria parte da vida nesse mundo parecia-lhe próxima, e, secretamente, começou a preparar-se para o grande papel que sentia aguardá-lo e cuja natureza só obscuramente conseguia entender.

As tardes pertenciam-lhe; e mergulhava numa velha tradução de O Conde de Monte Cristo, em muito mau estado.

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Capa do livro Retrato do Artista Quando Jovem
Páginas: 273
Página atual: 59

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 57
III 103
IV 156
V 186