Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 2: II Pág. 90 / 273

Os seus monstruosos pesadelos regressaram-lhe à memória. Também eles tinham surgido diante dele, súbita e furiosamente, através de simples palavras. Tinha-lhes cedido, permitindo-lhes que penetrassem e subjugassem o seu intelecto, perguntando sempre a si mesmo donde vinham, de que caverna de monstruosas imagens, e sentia-se sempre fraco e humilde perante os outros, impaciente e irritado consigo próprio, quando eles o invadiam.

- Cos diabos! Lá estão as Mercearias! - exclamou Mr. Dedaluso - Já me ouviste falar várias vezes das Mercearias, não foi, Stephen? Muitas vezes fomos para lá, depois de os nossos nomes terem sido chamados, uma data de rapazes, o Harry Peard e o pequeno Jack Mountain e o Bob Dyas e o Maurice Moriarty, o francês, e o Tom O'Grady e o Mick Lacy, de que te falei esta manhã, e o Joey Corbet e o pobre do Johnny Keevers, de Tantiles, sempre bem-humorado.

As folhas das árvores ao longo do Mardyke agitavam-se e sussurravam, à luz do Sol. Passou um grupo de jogadores de críquete, jovens de calças de flanela e blazers, um deles carregando um grande cesto verde com as balizas. Numa rua lateral tranquila, uma banda alemã de cinco músicos tocava para uma audiência de miúdos da rua e paquetes desocupados. Uma criada de touca e avental brancos regava uma floreira num peitoril de janela que brilhava como uma placa de calcário, à luz quente. De outra janela aberta, veio o som de um piano, escala após escala, subindo de tom.

Stephen caminhava ao lado de seu pai, escutando histórias que já escutara antes, ouvindo mencionar de novo os nomes dos foliões desaparecidos e mortos que haviam sido os companheiros da juventude do pai. E uma vaga náusea suspirava dentro do seu coração. Recordou-se da sua própria posição equívoca em Belvedere, um aluno externo, um chefe que receava a sua autoridade, orgulhoso, sensível e desconfiado, lutando contra a sordidez da sua vida e contra a sublevação da sua mente.





Os capítulos deste livro