Orgulho e Preconceito - Cap. 35: Capítulo XXXV Pág. 216 / 414

Darcy não tinha. Aqui novamente, terei de magoá-la. Até que ponto não sei. Só a senhora mesma poderá dizê-lo. Mas, quaisquer que sejam os sentimentos que Mr. Wickham lhe tenha inspirado, a suspeita que alimento acerca da natureza desses sentimentos não me impedirá de lhe revelar o verdadeiro carácter daquela pessoa. Acrescento mesmo um outro motivo. Meu excelente pai morreu há cerca de cinco anos e a sua afeição por Mr. Wickham foi até o fim tão firme que me recomendou particularmente no testamento que me encarregasse de promover o seu adiantamento na carreira que tinha escolhido, e manifestou o desejo de que um posto importante, à disposição da família, lhe fosse dado, assim que vagasse, caso Mr. Wickham se ordenasse. Deixou-lhe também um legado de mil libras. O pai dele não sobreviveu muito tempo ao meu, e meio ano depois desses acontecimentos Mr. Wickham me escreveu, informando-me que resolvera não tomar ordens. Dizia-me também que esperava que eu não achasse despropositado o desejo de uma compensação pecuniária mais imediata, em lugar do posto do qual não poderia agora se beneficiar. Acrescentou que tinha intenção de estudar direito, e que eu devia compreender que os juros de mil libras não eram suficientes para o seu sustento e os seus estudos. Apesar do meu desejo de acreditar na sinceridade dele, não o conseguia. Mas de qualquer modo mostrei-me perfeitamente disposto a aceder à sua proposta. Eu sabia que Mr. Wickham não devia ser pastor. O negócio foi portanto logo arranjado. Ele desistiu de toda proteção relativa à sua entrada na Igreja, mesmo se estivesse algum dia em situação de recebê-la, e aceitou em troca a quantia de três mil libras. Todas as nossas relações a partir dessa época ficaram interrompidas. O que eu sabia a respeito dele era suficiente para não o desejar como amigo.




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