Há um ano atrás saiu do colégio e foi morar em Londres em companhia de uma senhora encarregada de superintender a sua educação; e no verão passado foi com aquela senhora para Ramsgate. Mr. Wickham, sem dúvida propositadamente, partiu para o mesmo lugar; depois se descobriu que havia um entendimento prévio entre ele e Mrs. Younge, pessoa a respeito de cujo carácter infelizmente nos enganamos. Graças ao auxílio e conivência desta pessoa, ele se aproximou de Georgiana, em cujo coração por natureza afetivo ainda era muito vivida a impressão da bondade com que ele a tratara em criança. Ela se deixou persuadir de que estava apaixonada e consentiu em ser raptada. Como a moça tinha apenas quinze anos, essa loucura é até certo ponto escusável. Tenho o consolo de poder acrescentar que soube disto por ela própria. Cheguei a Ramsgate, inesperadamente, um ou dois dias antes da projetada fuga. E Georgiana, incapaz de suportar a ideia de desgostar e ofender um irmão que ela considerava quase como um pai, confessou-me tudo. A senhora pode bem imaginar como me senti e como agi. Para não prejudicar a reputação da minha irmã e não ofender os seus sentimentos, eu me abstive de qualquer ato de represália em público. Mas escrevi para Mr. Wickham, que partiu imediatamente. Mrs. Younge foi naturalmente despedida. Sem dúvida, o fito principal de Mr. Wickham era de se apoderar da fortuna da minha irmã, que é de trinta mil libras. Mas não posso deixar de pensar que o desejo de se vingar de mim tenha também influído fortemente nele.
»Esta é uma narrativa fiel dos acontecimentos que nos concernem a ambos; e se não a rejeitar como absolutamente falsa, espero que me absolva daqui por diante da falta de ter agido com crueldade para com Mr. Wickham.