As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 112 / 339

Considerei estas afirmações como uma resposta contundente aos argumentos daqueles cavalheiros. A isto apenas replicaram com um sorriso de menosprezo, dizendo que o lavrador me ensinara muito bem a lição. O rei, que era mais inteligente, mandou embora os sábios e ordenou que trouxessem O lavrador que, por sorte, ainda não tinha abandonado a capital; primeiro, interrogou-o a sós e, depois, acareou-o comigo e com a menina e começou a pensar que o que lhe dissera era provavelmente verdade. Encarregou a rainha de ordenar que tivessem especial cuidado comigo e mostrou-se partidário de Glumdalclitch continuar a sua missão de servir-me, pois notou que tínhamos um grande afecto. Deram-lhe aposentos adequados na corte; foi designada uma espécie de aia para cuidar da sua educação, uma donzela para a vestir e outras duas criadas para tarefas servis. Ela ficou exclusivamente dedicada à minha pessoa. A rainha ordenou ao seu próprio marceneiro que construísse uma caixa que pudesse servir-me de quarto, segundo o projecto aprovado por Glumdalclitch e eu. Este homem era um hábil artesão e, de acordo com as minhas directrizes, concluiu em três semanas um aposento de madeira de dezasseis pés quadrados de superfície e doze de altura, com janelas de guilhotina e dois roupeiros no estilo típico dos quartos ingleses. O estrado que fazia de tecto podia erguer-se e baixar-se por meio de dobradiças e por ali, feita pelo colchoeiro de Sua Majestade a rainha, instalou-se uma cama que, todos os dias, Glumdalclitch retirava para arejar, coisa que fazia com as suas próprias mãos, voltando a pô-la no quarto à noite, fechando depois o tecto sobre mim. Um famoso fabricante de miniaturas tomou a seu cargo fazer duas cadeiras com as costas e braços de um material parecido com o marfim, e duas mesas com uma cómoda para colocar os meus haveres.




Os capítulos deste livro