Toda a habitação estava acolchoada, tal como o chão e o tecto, para evitar qualquer acidente por descuido dos que me transportavam e pela violência dos trambolhões quando era posto numa carruagem. Quis uma fechadura para a porta para evitar a entrada de ratazanas; o serralheiro, após várias tentativas, fez a fechadura mais pequena que se vira naquele país e, de facto, eu só encontrara uma maior na entrada de um palacete de um aristocrata inglês. Consegui que fosse eu a guardar a chave num dos meus bolsos com receio de que Glumdalclitch a pudesse perder. De igual modo, a rainha adquiriu as mais finas sedas que se podiam encontrar, e que não eram muito mais espessas que uma manta inglesa, para que fossem feitas as minhas roupas, as quais me provocaram grande desconforto até que me habituasse. Constituíam uma indumentária muito austera e decente e estava confeccionada segundo a moda daquele reino, em parte semelhante à persa, em parte à chinesa.
A rainha apreciou tanto a minha companhia que não me dispensava à hora das suas refeições. A minha mesa ficava sobre aquela em que Sua Majestade comia, à sua esquerda, e havia uma cadeira para me sentar. Glumdalclitch ficava num tamborete, no chão, perto da minha mesa, para poder servir-me e tratar de mim. Tinha uma baixela completa de pratos e travessas de prata e outras peças que, em proporção com os da rainha, não eram muito maiores que os que vira nas lojas de brinquedos de Londres para as casas de bonecas; a minha pequena ama-seca guardava-as no seu bolso, numa caixa de prata, e colocava-as na mesa à medida que eu necessitava, sendo sempre ela a proceder à sua lavagem. Ninguém comia com a rainha, excepto as princesas reais: a mais velha, de dezasseis anos, e a mais nova, que tinha então pouco mais de treze anos e um mês.
