Deu ordens para o carpinteiro construir uma caixa de madeira de trezentos por cinquenta pés e oito de profundidade. Foi coberta de pez para impedir que perdesse água e colocada no chão de um aposento exterior ao palácio. O recipiente tinha um orifício para o desaguamento, que permitia esvaziá-lo para renovação da água, e dois criados podiam enchê-lo com facilidade em meia hora. Ali costumava remar com frequência para recreio próprio e para diversão da rainha e do seu séquito, que se mostravam encantados com a minha destreza e agilidade. Às vezes içava a vela e só tinha de manejar o leme enquanto as damas me proporcionavam a brisa com o abanar dos leques; e quando estas se cansavam, alguns pajens costumavam soprar para as velas enquanto fazia a demonstração da minha habilidade e manobrava a rigor, ora para bombordo, ora para estibordo. Quando terminava, Glumdalditch costumava levar a barca para os seus aposentos e pendurava-a num prego para que secasse.
Durante estes exercícios aconteceu-me um acidente que podia ter-me custado a vida. Certo dia, um dos pajens colocou a barca no recipiente e a professora de Glumdalclitch, sem que ninguém lhe pedisse, agarrou-me para colocar-me no barco. Mas deu-se o caso de eu ter escorregado entre os seus dedos e teria partido inevitavelmente a cabeça ao cair de quarenta pés de altura se, pelo mais feliz dos acasos, não tivesse sido detido por um alfinete preso ao ventre generoso da dama, cuja cabeça se introduziu entre a minha camisa e o cinturão; fiquei assim preso pela cintura até que Glumdalclitch veio em meu socorro.
Noutra ocasião, um dos criados, cuja missão consistia em encher o reservatório com água fresca de três em três dias, despejou, por descuido, para dentro dele uma vasilha de água onde se encontrava uma rã gigantesca.
