As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 133 / 339

Esta manteve-se submersa até que decidiu trepar para o meu bote, para descansar; ao fazê-lo, adornou de tal maneira a embarcação que me vi obrigado a contrabalançar com todo o meu peso na outra borda, para impedir que se voltasse. Uma vez a bordo, com um salto a rã chegou ao meio do barco e, em seguida, saltou várias vezes por cima da minha cabeça, sujando-me a roupa e o rosto com a sua baba asquerosa. As dimensões que tinha faziam o animal parecer anormalmente disforme. Pedi, no entanto, a Glumdalclitch para me deixar desenvencilhar sozinho. Com um dos meus remos desferi-lhe uma boa quantidade de golpes e, por fim, obriguei-a a saltar da embarcação.

Mas o maior perigo que corri neste pais foi provocado por um macaco pertencente a um ajudante de cozinheiro. Glumdalclitch fechara-me no seu quarto enquanto fazia um recado ou uma visita. Como o tempo estava muito quente, deixara aberta uma janela do aposento, assim como as janelas e a porta da minha caixa grande, lugar onde por hábito me recolhia devido ao seu conforto e espaço. Enquanto estava sentado à mesa, mergulhado nos meus pensamentos, ouvi algo dar um salto através da janela e movimentar-se de um lado para o outro do aposento. Ainda que isto me tivesse alarmado em extremo, atrevi-me a olhar para fora, mas mantendo-me o mais quieto possível. Vi então um animal brincalhão que se movia e dava saltos. Por fim, aproximou-se da minha caixa, que parecia contemplar com grande satisfação e curiosidade, espreitando por todas as janelas e pela porta. Recuei para o lugar mais afastado do meu habitáculo; mas o macaco, ao esquadrinhar por todos os lados, infundiu-me um tal pavor que não tive presença de espírito de esconder-me debaixo da cama, coisa que teria podido fazer com facilidade.