Depois retirou-se para a dispensa, e eu fui a correr outra vez até ao tombadilho, a ver se haveria algum tempo, algum sopro por baixo do céu, algum frémito na atmosfera, algum sinal de esperança. Era a mesma calma apodrecida que novamente me esperava. Nada mudara, excepto um homem diferente, agora ao leme. Parecia estar doente, ele. Toda a sua silhueta se debruçava para diante, e parecia mais estar a segurar-se às malaguetas da roda do leme do que governá-las com a mão firme de quem orienta a marcha de um navio. Eu disse-lhe:
«Você não está em condições de aqui estar.»
«Posso fazer um esforço, senhor comandante», respondeu-me ele, numa voz fraca.
Para dizer a verdade, o homem nada tinha que precisasse de fazer naquele lugar. O navio não dava pelo leme. Tinha a proa para oeste, a sempiterna ilha de Kohring aparecia por cima do arco da popa, rodeada por algumas ilhotas mínimas, pontos negros perdidos numa reverberação enorme, como se nadassem diante dos meus olhos toldados de confusão. E, para além daquelas nesgas de terra, não se via a mais pequena mancha no céu, nem a mais pequena sombra nas águas, não se via a menor condensação de humidade a formar-se em parte alguma, nem um barco, nem a mais leve manifestação da presença humana, nem sinal de vida alguma, nada!
A primeira pergunta a que seria necessário dar resposta, era: que fazer? Que podia uma pessoa fazer? A primeira coisa a fazer, como era evidente, seria dizer tudo aos homens que constituíam a tripulação. Fi-lo nesse mesmo dia. Não podia limitar-me a deixar correr a notícia. Tinha que dar-lhes a notícia cara a cara. Fiz com que se juntassem na tolda para o efeito. Precisamente, no instante em que avancei para lhes falar, descobri de súbito como a vida pode conter momentos tremendos.