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«Mas eu tenho que ir-me embora», insistiu ele. «Estou no meu direito!» Suspirou convulsivamente e passou-lhe pelo rosto uma expressão quase feroz de decisão. Transformara-se de um instante para o outro numa criatura diferente. E eu entendi qual era, por trás da coragem e da sensibilidade de espírito daquele homem, a triste realidade. A vida era para ele um favor... - aquela sua vida precária e penosa... e ele sentia-se totalmente aterrorizado consigo próprio.
«É claro que lhe dou o cartão de desembarque, se o quiser», apressei-me a dizer-lhe. «Só tenho que lhe pedir que fique a bordo até à tarde. É que não posso deixar Burns sozinho no navio, durante umas horas.»
Ele assentiu no mesmo instante e garantiu-me, sorrindo, com a sua voz afável e cheia de naturalidade, que compreendia perfeitamente.
Quando regressei ao convés, tudo estava a postos para se transportarem os homens da tripulação. Foi a última prova da história a fazer-me amadurecer um pouco mais e a forjar-me a têmpera... - embora eu não me desse conta desse facto.
Era terrível. Os homens passaram diante de mim, um atrás do outro, cada um deles a personificação das acusações mais amargas, até que senti despertar uma espécie de revolta no meu íntimo. O pobre França fora-se abaixo de repente. Levaram-no, fazendo-o passar diante dos meus olhos, com o seu rosto de cómico cheio de um rubor medonho, como se estivesse a inchar, respirando num estertor. Estava mais parecido que nunca com a imagem de Punch - um Punch miseravelmente embriagado.
Gambril, o austero, em compensação, tivera melhoras temporárias. Fez questão em ir pelo seu pé até à amurada do navio... - a pé, mas evidentemente, amparado por um homem de cada lado. Mas desencadeou um brusco pânico na altura em que o estavam a passar por cima da borda, começando uma queixa que metia dó:
«Não lhes dê autorização, comandante, para me deixarem cair.
