Não lhes dê autorização, comandante, para me deixarem cair», enquanto eu lhe gritava na voz mais tranquilizadora que me era possível arranjar: «Não há problema, Gambril! Não vão deixar-te cair! Não vão deixar-te cair!».
Evidentemente, tudo aquilo era extremamente ridículo.
Os marinheiros dos vasos de guerra sorriam, no convés, silenciosos, enquanto o próprio Ransome (sempre solícito em ajudar) se vira forçado a abrir por um breve instante um pouco mais do que habitual a sua expressão risonha.
Dirigi-me a terra a bordo da vedeta a vapor, e ao olhar para trás, avistei Burns, de pé, junto à grinalda da popa, tendo ainda vestido o seu gigantesco casacão de lã. A sua aparência sobrenatural era sublinhada até à estupefacção pela claridade da luz do sol. Parecia um espantalho numa figueira, assustador e muito bem construído, plantado na proa de um navio batido pela morte, para desviar os pássaros marinhos dos corpos dos falecidos.
A nossa história espalhara-se já pela cidade inteira e toda a gente em terra foi extremamente amável para connosco. A capitania dispensou-me do pagamento das taxas do porto e, como sucedia estar na Casa dos Marinheiros a tripulação de uma embarcação naufragada, não me foi difícil obter a matrícula no meu navio de tantos homens quantos me eram necessários. Mas quando quis saber se poderia ser recebido pelo comandante Ellis apenas por um momento, responderam-me em tom compadecido com a minha ignorância que o vice-Nepruno se reformara e voltara à metrópole para viver da sua pensão, coisa de três semanas a seguir a eu ter largado do porto. Por isso, imagino que a minha nomeação foi o derradeiro acto extra-rotina do serviço quotidiano da sua vida oficial.
É estranho como ao chegar a terra me impressionou a flexibilidade do andar, a vivacidade dos olhares, a energia vital intensa de todas as pessoas com que me cruzava.