A última coisa que vi foi estes colocarem-lhe à frente um prato com uma talhada de ananás, ficando depois de pé, atrás dele, a verem o que se iria passar. Mas a experiência não deu resultado. O homem permaneceu como se nada tivesse acontecido.
O capitão Giles comunicou-me em voz baixa que se tratava de um oficial de bordo de certo iate de um rajá que viera para a doca seca do porto. O homem devia ter passado toda a noite a festejar, acrescentou, franzindo ao mesmo tempo o nariz, adoptando um género de intimidade e confiança que me encantaram ao máximo. Porque o capitão Giles gozava de grande prestígio. Atribuíam-se-lhe aventuras espantosas e parecia haver um segredo trágico na vida dele. Não se encontrava ninguém capaz de ter uma só palavra contra ele. Continuou:
«Lembro-me, foi há alguns anos, da primeira vez que ele aqui veio a terra. Parece ontem. Era um belo moço. Oh! Esses rapazes bonitos!...»
Eu não pude impedir-me de soltar uma gargalhada. Ele pareceu ficar surpreendido, mas fez coro comigo logo a seguir. «Não! Não! Não é isso que eu queria dizer», exclamou. «O que estava dizer é que há alguns jovens que quando aqui vêm parar ficam sem forças e se tornam moles muito depressa.»
Em tom de brincadeira, aventei que a causa principal poderia bem ser aquele calor imbecil. Mas o capitão Giles mostrava-se na posse de uma filosofia mais profunda. No Oriente, as coisas achavam-se facilitadas para os brancos. Estava tudo muito certo. Mas a dificuldade era precisamente de se continuar a ser branco, e havia muitos desses rapazes que não sabiam fazê-lo. Lançou-me um olhar inquiridor e, com as maneiras afáveis de um velho tio, perguntou-me de súbito:
«Porque foi que você deixou o seu lugar a bordo?» Senti uma ira brusca; porque, como toda a gente compreenderá, a pergunta tornava-se exasperante para alguém que não sabia como responder-lhe.
