Disse então para comigo que tinha o dever de calar aquele moralista e perguntei-lhe em voz alta, provocando-o com delicadeza:
«Porquê? .. O senhor não concorda com o que fiz?» Ele ficou demasiado desconcertado para poder fazer outra coisa que não fosse murmurar, confuso: «Eu... De modo geral...». Depois desistiu de me conservar o seu interesse. Mas retirou em boa ordem, cobrindo-se com a observação muito original de que ele próprio estava a amolecer e que eram horas de ir dormir uma breve sesta... enquanto estava em terra: «Mau hábito. Muito mau hábito».
A simplicidade do capitão teria bastado para desarmar uma susceptibilidade ainda mais jovem do que a minha. De modo que, no dia seguinte, por altura do tiffin, quando o vi inclinar a cabeça em direcção a mim para me dizer que encontrara o meu ex-capitão na noite anterior, acrescentando a meia voz: «Teve muita pena de que o senhor tivesse deixado 'o navio dele; nunca tinha tido um imediato com quem se desse tão bem como consigo», eu respondi-lhe com toda a seriedade, e sem a menor afectação, que a verdade era que também eu nunca me sentira tão bem em nenhum outro barco, nem com nenhum outro comandante ao longo de toda a minha vida no mar.
«Bem... mas então...», murmurou ele.
«Não ouviu ainda dizer, capitão Giles, que tenciono ir para a metrópole?»
«Sim», retorquiu-me ele com bondade, «já ouvi dizer isso várias vezes.»
«E então?», exclamei. Tinha a impressão de que se tratava do homem mais estúpido e com menos imaginação que alguma vez me fora dado conhecer. E não sei que outras coisas teria dito ainda nesse instante para ocupar à mesa o seu lugar do costume. Por isso, baixei a voz, reduzindo-a a um quase murmúrio:
«Mas desta vez, vai ver que realizarei o que tenciono fazer.
