Isto não passa do exemplo de quatro modos de expressar duas coisas opostas.
. Mas Burns descobrira um outro método, muito próprio dele, com a virtude inegável de poupar o fôlego, se outros méritos não tivesse.
Tornou a não responder coisa nenhuma. Limitou-se a franzir o sobrolho. E tratava-se de um franzir de olhos de cólera. Eu estava à espera. Mas nada mais acontecia.
«Mas isso que vem a ser?.. Não me diga que não sabe, depois de andar há dois anos neste barco!...», disse-lhe eu, num tom incisivo.
Ele pareceu surpreendido, por um instante, corno se só agora tivesse dado pela minha presença. Mas a perturbação abandonou-o rapidamente. Assumiu urna expressão de indiferença. Suponho que, todavia, lhe pareceu mais avisado dizer qualquer coisa. Respondeu, assim, que o navio precisava, tal corno acontece a uma pessoa, de oportunidade para mostrar aquilo de que era capaz, e que, desde que ele se achava a bordo, essa oportunidade nunca lhe fora dada. Nunca, pelo menos que ele conseguisse lembrar-se. O último capitão... Calou-se:
«Teve assim tanto azar?», inquiri, com toda a franqueza, e cheio de incredulidade. Burns desviou os seus olhos dos meus. Não; o anterior capitão não era um homem com pouca sorte. Não se podia dizer isso. O que parecia era que não queria aproveitar a sorte que unha.
Burns - homem de humor misterioso - procedeu a esta verificação com a face parada e os olhos teimosamente fixos na calha dos gualdropes do leme. Com o ar mais sossegado que consegui perguntei-lhe então:
«Onde é que ele morreu?»
«Foi nesta câmara. Precisamente nesse lugar onde o senhor se sentou», respondeu-me ele.
Dominei um repentino impulso de saltar dali para fora, mas, finalmente, sempre era um alívio saber que não fora no beliche, que doravante era o meu, que o outro tinha morrido.
