Daí o travo amargo do nosso encontro. Fui-o saboreando cada vez mais e com maior nitidez... E cada vez o achava menos a meu gosto.
«Diga-me uma coisa, senhor Burns», comecei eu, firmemente. «Compreende também que eu não andei a correr atrás deste comando. Lançaram-me no caminho dele. Aceitei. Estou aqui, em primeiro lugar, para levar o navio para a metrópole e o senhor pode estar certo de que hei-de tratar de que cada um a bordo realize o seu serviço com essa finalidade. É tudo o que tenho a dizer-lhe... - de momento.»
Burns estava já de pé naquela altura, mas, em lugar de se despedir, ficou ali, com os lábios trémulos de indignação, olhando-me fixamente, como se, depois daquilo, realmente, não houvesse outra coisa decente a fazer senão desaparecer da sua vista ofendida. Como todos os estados emotivos compreensíveis demais, aquele era comovente. Senti pena dele… Diria, quase simpatia (visto que não desapareci), até que, num tom de autocontrolo forçado, ele disse:
«Se eu não tivesse a mulher e um filho em terra, o senhor podia ter a certeza de que lhe pediria autorização para me ir embora, no mesmo instante em que o senhor chegou a bordo.»
Respondi-lhe com toda a calma, para o caso de um terceiro muito longínquo estar ali em causa.
«E eu, senhor Burns, não o autorizaria a desembarcar do navio. O senhor matriculou-se como imediato e, enquanto a matrícula não terminar no seu porto de destino, espero que cumpra os deveres que lhe competem, e me favoreça com os dons da sua experiência e o máximo da sua competência profissional.»
Retardou-se-lhe no olhar uma incredulidade impassível; cedeu, porém, perante a minha atitude amistosa. Agitando levemente os braços no ar (mais tarde tive ocasião de ver muitas vezes o mesmo gesto), saiu como uma seta da câmara dos oficiais.
