.. - uma vez pelo menos?».
Nessa noite, a seguir ao jantar, sentado na câmara dos oficiais, ouvi-o a falar sozinho, ininterruptamente e em voz baixa, no camarote. Ransome, que estava a levantar a mesa disse-me:
«Receio não poder dar ao senhor imediato toda a assistência de que ele naturalmente precisa. Tenho que estar grande parte do tempo na cozinha, à proa.»
Ransome era o cozinheiro. O imediato indicara-mo logo no primeiro dia, de pé no convés, com os braços cruzados sobre o peito largo, fitando o rio.
Mesmo à distância, a sua compleição bem proporcionada, de marinheiro, todo ele, na sua postura, tornava-o notado. De mais perto, os olhos calmos, o rosto bem desenhado, a atitude de independência ordenada, tornavam-no atraente. Quando Burns me disse, para mais, que era aquele o melhor marinheiro a bordo do navio, manifestei a minha surpresa pelo facto de um rapaz assim, na força da idade, e com tal aspecto, se ter matriculado como cozinheiro num navio de vela.
«Foi por causa do coração», disse Burns. «Há qualquer coisa que lá não está bem. Não pode fazer demasiados esforços, senão morre de repente.»
Mas era ele o único que o clima não afectara - talvez porque, trazendo no peito um inimigo mortal, se tivesse treinado no controlo sistemático das suas impressões e dos seus gestos. Para quem sabia do seu segredo, isto era evidente nos modos dele. Após a morte do infeliz despenseiro, e como não era possível substitui-lo naquele porto do Oriente por um branco, Ransome oferecera-se para acumular o seu serviço.
«Posso fazê-lo muito bem, senhor comandante, se tratar de tudo sem grandes pressas», asseverou-me.
Mas é claro que não se podia esperar que se ocupasse também do trabalho complementar de enfermeiro.