De resto, o médico dispôs peremptoriamente que Burns fosse para terra.
Com um marinheiro a sustentá-lo por baixo dos braços, de cada lado, o imediato subiu, sombrio como nunca a escada da escotilha. Acomodámo-lo com almofadas no gharry, enquanto ele se esforçava por dizer numa voz intermitente:
«Agora..: - O senhor conseguiu... - o que pretendia... - conseguiu pôr-me do navio... - do navio para fora.»
«Nunca esteve mais enganado na sua vida, Burns» disse eu muito calmamente, ao mesmo tempo que sorria, e o gharry transportou-o para uma espécie de casa de saúde, um pavilhão de tijolo, que o médico tinha nos jardins de sua casa.
Visitei Burns com regularidade. Passados alguns dias, enquanto ainda não reconhecia ninguém, recebia-me como se eu fosse ali divertir-me à vista de um adversário caído ou tentar conquistar a boa vontade de uma pessoa gravemente insultada. Das duas uma, conforme as ocasiões, segundo os caprichos do seu humor de doente. Mas, em. qualquer caso, conseguia comunicar comigo para o efeito, mesmo durante as fases em que parecia tão enfraquecido que não era capaz de falar. Eu tratava-o com a minha afabilidade habitual.
Depois, um certo dia, de súbito, uma vaga de autêntico terror irrompeu no meio da sua loucura.
Se o deixasse ficar em terra, naquelas paragens mortais, ele não sobreviveria, Podia senti-lo, tinha a certeza disso. Eu não teria coragem, no entanto, de o deixar ali. Ele tinha a mulher e um filho em Sidney.
Puxou os braços emagrecidos debaixo do lençol que o tapava e pegou com uma na outra das mãos descarnadas. Ia morrer! Ia morrer ali...
Na realidade, foi ainda capaz de se sentar, mas por um momento apenas, e, quando voltou a cair de costas, julguei deveras que ia morrer.