Tufão - Cap. 1: I Pág. 11 / 103

Era melhor que Jukes fosse já tratar disso. «Está a ouvir, Jukes». Aquele chinês seguia no navio até Fu-Chau - seria uma espécie de intérprete. Era empregado da Bun Hin e queria dar uma olhadela ao alojamento. Era melhor Jukes levá-lo lá. «Está a ouvir, Jukes».

Jukes teve o cuidado de interromper estas instruções nos lugares adequados com o obrigatório «Sim, sir», expelido sem entusiasmo. O seu brusco «Anda daí, rapaz, vamos lá ver» pôs o chinês em movimento atrás dele.

- Se querer ver, poder agora ir olhar para lá - disse Jukes, que, sem talento para as línguas, maltratava o próprio pidgin-English cruelmente. Apontou para a escotilha aberta. - Apanhar lugar catita de primeira para dormir, hem?

Era rude, como competia à sua superioridade racial, mas não inamistoso. O chinês, olhando triste e calado para a escuridão da escotilha, parecia parado à beira de um túmulo escancarado.

- Não apanhar chuva ali em baixo... perceber? - assinalou Jukes. - Supor ter bom tempo, todos chineses vir cá para cima - prosseguiu ele, com a imaginação a aquecer. - Fazer assim... Fúuuuu! - Expandiu o peito e soprou as bochechas. - Perceber, rapaz? Respirar... ar fresco. Bom. Hem? Lavar roupa, comer chow-chow cá em cima... perceber, rapaz?

Com a boca e as mãos fazia movimentos exuberantes de quem está a comer e a lavar roupas; e o chinês, que ocultava a sua desconfiança, desta pantomima sob uma atitude calma impregnada por uma suave e refinada melancolia, lançou os seus olhos de amêndoa de Jukes para a escotilha e de novo para Jukes. «Pelfeitamente», murmurou, numa vozinha desconsolada, e apressou-se a partir pelo convés adiante, evitando os obstáculos que encontrava pelo caminho. Desapareceu, curvando-se debaixo de uma lingada de dez sacos de juta muito sujos cheios de qualquer mercadoria muito cara que exaltava um cheiro nauseabundo.





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