Esta tempestade excedia todos os limites.
Jukes sentiu um braço cair-lhe pesadamente sobre os ombros; e a este gesto correspondeu com grande inteligência abraçando-se à cintura do seu capitão.
Permaneceram assim agarrados na noite cega, juntando forças contra o vento, face contra face e lábio contra orelha, como dois cascos amarrados proa com popa.
E Jukes ouviu a voz do capitão, não muito mais alta do que antes, mas mais próxima, como se, começando agora a viajar de través pela prodigiosa investida do furacão, o tivesse aproximado, produzindo aquele estranho efeito de quietude comparável com o brilho sereno de uma auréola.
- Você sabe onde param os marinheiros? - perguntou a voz, vigorosa e evanescente ao mesmo tempo, suplantando a força do vento, e instantaneamente varrida para longe de Jukes.
Jukes não sabia. Estavam todos na ponte quando a verdadeira força do furacão atingiu o navio. Não fazia ideia de onde se teriam metido. Dadas as circunstâncias, e considerando tudo aquilo para que poderiam servir, não estavam em parte alguma. De certo modo, o facto de o capitão querer saber perturbou Jukes.
- Quer os marinheiros, sir? - gritou, apreensivamente.
- Preciso saber - confirmou o capitão MacWhirr. - Agarre-se bem.
Agarraram-se bem. Uma explosão de fúria desencadeada, uma rajada brutal de vento, imobilizou completamente o navio; ele balançou apenas, rápido e leve como o berço de um bebé, por um terrível momento de suspensão, enquanto toda a atmosfera, ou assim parecia, corria furiosamente por ele, fugindo a rugir do mundo tenebroso.
Aquilo sufocou-os, e com os olhos fechados agarraram-se com toda a força das suas mãos crispadas. O que pela grandeza do choque devia ser uma coluna de água correndo na perpendicular no escuro investiu contra o navio, desfez-se e caiu sobre a ponte, esmagadoramente, do alto, como um peso morto.