Tufão - Cap. 3: III Pág. 45 / 103

Um fugidio fragmento daquele desmoronamento, um mero salpico, envolveu-os num redemoinho que os cobriu dos pés à cabeça, enchendo-lhes violentamente os ouvidos, as bocas, as narinas, de água salgada. Fez-lhes perder o pé, torceu-lhes os braços, afastou-se rapidamente a ferver debaixo dos seus queixos; e abrindo os olhos, eles viram as massas amontoadas de espuma precipitando-se de cá para lá no meio daquilo que pareciam ser os fragmentos de um navio. Ele encolhera-se como tivesse recebido uma estocada. Os corações palpitantes dos dois homens encolheram-se também diante daquele tremendo golpe; e imediatamente o navio recomeçou os seus balanços desesperados como se a tentar sacudir de si aquelas ruínas.

As vagas nas trevas pareciam precipitar-se de todos os lados para obrigá-lo a permanecer no lugar onde havia de perecer. Havia ódio na maneira como o tratavam, e ferocidade nos golpes desferidos. O Nan-Shan era como uma criatura viva lançada à fúria da multidão: terrivelmente acotovelado, agredido, levantado, derrubado, espezinhado. O capitão MacWhirr e Jukes agarravam-se um ao outro, ensurdecidos pelo barulho, amordaçados pelo vento; e o grande tumulto físico que se digladiava em torno dos seus corpos produziu, com uma desenfreada ostentação de paixão, uma profunda perturbação nas suas almas. Um desses pavorosos gritos selvagens que se ouvem às vezes passar misteriosamente por cima das nossas cabeças no meio do rugir constante do furacão picou de súbito, como se tivesse asas, sobre o navio, e Jukes tentou gritar ainda mais alto.

- Ele sobreviverá a isto?

O grito foi-lhe arrancado do peito. Foi tão involuntário como o nascimento de um pensamento na cabeça, e ele próprio não o ouviu. Tudo se extinguiu imediatamente - pensamento, intenção, esforço - e a inaudível vibração do seu grito foi juntar-se às ondas de tempestade do ar.





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