Tufão - Cap. 3: III Pág. 46 / 103

Jukes não esperava nada daquilo. Absolutamente nada.

Porque com efeito que resposta poderia ser dada? Mas passado um instante ouviu com assombro a voz frágil e resistente no seu ouvido, o som anão, invicto no gigantesco tumulto.

- É possível!

Foi um grito surdo, mais difícil de captar que um murmúrio. E pouco depois a voz voltou de novo, semi-submersa no vasto fragor, como um navio lutando contra as vagas de um oceano.

- Esperemos que sim! - gritou a voz, pequena, solitária e fria, alheia às visões da esperança ou do medo; e tremulou em palavras desconexas: - Navio... Isto... Nunca... Seja como for... esperemos o melhor. - Jukes desistiu.

Depois, como se lhe tivesse ocorrido subitamente a única coisa capaz de resistir à força da tempestade, a voz pareceu ganhar força e firmeza nos últimos gritos entrecortados:

- Continua a aguentar... construtores... homens competentes... E temos de arriscar... máquinas... Rout... homem competente.

O capitão MacWhirr retirou o braço dos ombros de Jukes, e com isso deixou de existir para o seu companheiro, tão escuro estava; Jukes, depois de uma tensa contracção de todos os músculos, descontraiu-se todo. O tormento do mais profundo desconforto vivia paredes meias com uma incrível disposição para dormir, com aquela sonolência em que às vezes cai um homem espancado e atormentado. O vento apoderava-se da sua cabeça e tentava arrancar-lha dos ombros; as suas roupas, cheias de água, eram tão pesadas como chumbo, frias e pingando corno uma couraça de gelo a derreter; teve um prolongado arrepio; e com as mãos crispadas para se agarrar, começava a deixar-se afundar lentamente nos abismos do desespero físico. A sua mente começou a concentrar-se em si próprio, de uma maneira ociosa, sem objectivo, e quando qualquer coisa lhe tocou ao de leve na prega dos joelhos quase saltou, como se costuma dizer, para fora de si mesmo.





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